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Ir. Eugénia Figueiredo - Servas de Nossa Senhora de Fátima |
Sou a Irmã Eugénia Figueiredo, das Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima, sou portuguesa e missionária na Guiné Bissau desde 2018.
Fui enviada a esta terra com uma missão muito específica, a pedido do Bispo de Bissau: sou chamada a construir uma disciplina de Educação Moral, Religiosa e Humana, para as escolas católicas da Diocese. Esta disciplina que aqui recebeu o nome de “Introdução à Vida” tem como base algumas orientações do Magistério da Igreja, que sintetizei em duas: que se dê uma “sólida formação de orientação cristã” aos alunos (“A Escola Católica no limiar do terceiro milénio, nº8) e que faça o diálogo entre a cultura e a fé, e o diálogo entre fé e os outros saberes escolares (Directório Geral da Catequese, nº 79).
Perscrutando a cultura
guineense, apercebi-me que esta é depositário de uma sabedoria e experiência
populares contidos nos seus contos, mas sobretudo nos seus provérbios. Esta
sabedoria expressa-se, por exemplo, na confiança na Providência divina (“Baka ki ka ten rabu, Deus ta banal” - à
vaca que não tem rabo, Deus encarrega-se de enxotar as moscas); na aceitação da
vida como ela é (“Baga-baga ka ta kata
iagu, ma i ta masa lama” - a formiga termiteira não consegue buscar água,
mas consegue amassar a lama e construir belas e grandes termiteiras); nas
relações humanas (“Mesinhu ki bu ka ta
pui na bu tchaga, ka bu pul na tchaga di bu kumpanheru” – o medicamento que
não pões na tua ferida, não o ponhas na ferida do teu próximo), entre outros.
Contudo, esta sabedoria deve ser transmitida às novas gerações e, seguindo a recomendação do Senhor Jesus, complementada e purificada pela proposta do Evangelho, de modo que todos os homens e mulheres de boa vontade possam “compreender mais profundamente o genuíno sentido da vida humana e o vínculo universal da comunidade humana” (cf. AG 11). Para além da família, a escola é um óptimo local de transmissão de valores.
A necessidade de transmissão de valores humanos e evangélicos é gritante na Guiné Bissau. Não é necessária uma análise exaustiva para se chegar à conclusão que existe uma deficiente formação moral, cívica e ética numa boa parte da população, a qual se está a repercutir negativamente a nível social, político e económico: a instabilidade política e o abuso de força e do poder; a corrupção generalizada; o sistema judicial inoperante; o crescente tráfico de droga; a falta de sentido do bem comum e a danificação ou apropriação de bens públicos para benefício pessoal - tudo isto tem agravado a situação de pobreza do país.
Então, o meu trabalho tem
sido primeiramente de reflexão e de escrita de livros, que depois são revistos
por uma equipa local. Após a aprovação dos materiais, temos investido na
formação intensiva de educadores e professores. Já saíram os materiais para o
Jardim de Infância e para o primeiro e segundo anos da escola primária; e já
fizemos a formação de mais de 150 educadores e 50 professores. O desafio é
continuar a escrever até ao 12º ano e ir formando continuamente os professores
de todo o país nesses níveis.
Trata-se realmente de um Projeto complexo, que vai demorar
alguns anos, mas creio que se estão a dar passos seguros. A graça de Deus não
nos tem faltado, tornando-se bem visível, especialmente nos momentos de dificuldade.
E como diz a sabedoria popular guineense, “sufridur
ta padi fidalgu” (quem trabalha muito, sofre, mas terá o seu prémio); a minha
esperança é que esse prémio seja o crescimento Reino de Deus no meio de nós.
E é nesta esperança que me despeço desejando a cada um, um
santa caminhada de Advento!
Ir. Eugénia
Figueiredo
Guiné Bissau